Passeio a Ferreira do Alentejo
29 abril 2023
Notas de viagem de David Cancela
Fotografias de Carlos Antunes (Antunes Fotografia)
Vila de Ferreira do Alentejo, distrito de Beja
Vila do Baixo Alentejo, com cerca de 3700 habitantes e foral desde 1516 atribuído por D Manuel I, dotada de castelo, que desapareceu no sec XIX. No local está agora o cemitério municipal.
Tem reminiscências pré-históricas, romanas e árabes. Singa, era o nome da vila romana e reza a lenda que o topónimo de Ferreira advém duma mulher que se destacou na defesa da cidade, aquando das invasões bárbaras, cujo nome era desconhecido, mas seria mulher do ferreiro, daí o nome — está imortalizada com os malhos na mão, numa estátua numa rotunda, à entrada da Vila.
Destaque para a arquitectura da Câmara Municipal, na Praça do Comendador Infante Pessanha, politico e presidente da autarquia, cujo busto está na praça do seu nome e para Casa Agrícola Jorge Ribeiro de Sousa, agora Museu Municipal. Destaque também para a Capela do Calvário ou Igreja das Pedras, igualmente conhecida como Capela de Santa Maria Madalena. Tem configuração circular, abóbada em forma de redoma e remonta ao séc. XVII.
Uma referência ainda para a localização de Ferreira, no trajeto da mítica Nacional 2 e ponto de visita obrigatória para quem percorre esta estrada, que liga Chaves a Faro e que em tempos de outrora estava inserida num dos Caminhos de Santiago, como comprovam as conchas de vieira na parede da Igreja Matriz, dedicada a Nossa Senhora da Assunção.
Museu Municipal de Ferreira do Alentejo
Antiga Casa Agricola Jorge Ribeiro de Sousa ou Casa dos Morgados da Apariça, transformada em 2004 em Museu Municipal. Edifício nobre do séc. XIX é imóvel de interesse municipal.
Museu etnográfico, histórico e religioso, com um importante núcleo de Arte Sacra. Aqui é possível acompanhar a evolução humana desde os tempos pré-historicos, até à romanização e à influência árabe, e inevitavelmente à reconquista cristã, não olvidando a importância da produção agrícola durante o sec XIX. Destaque para o espaço dedicado a Michel Giacometti, corso que tanto fez pela Música Popular Portuguesa e de recolha fonográfica do nosso cancioneiro.
Incluído nesta visita, descobrimos da Adega da Talha, que faz parte do núcleo museológico e é possível aprender esta técnica milenar de produção de vinho e o ambiente de taberna, devidamente recriado pelos utensílios de época. Os meios audiovisuais complementam e que permitiram ainda assistir ao Cante em plena adega.
Herdade do Vale da Rosa
É o maior produtor nacional de uva de mesa sem grainha. Esta uvas são conhecidas por serem doces e naturais e são consumidas desde a Mesopotâmia, sendo a mais popular a Sultana ou Sultanina, consumida seca em forma de passa. A partir do séc XIX, através do cruzamento de castas aumenta o calibre e a variedade, sendo produzidas nesta herdade cerca de duas dezenas, com destaque para a Sophia, Melissa, Cardinal, Crimson ou até Red Globe.
A visita iniciou-se com a sessão de Boas Vindas e apresentação da Herdade, com degustação de produtos locais e visita loja, com destaque para o artesanato regional e os produtos de higiene produzidos a partir da transformação das uvas.
O passeio de trator entre as plantações em pérgola, permitiu-nos conhecer a importância deste produto na região, que ocupa cerca de 400 hectares e na época alta emprega cerca de mil pessoas e são um modelo produção que protege a biodiversidade, com uma fertilização dos terrenos associada à plantação, por baixo das latadas, de uma variedade de leguminosas que auxiliam a regeneração da terra e a criação de minhocas que colaboram de forma natural neste processo, associados a uma gestão da água que chega do Alqueva. O controlo de pragas também recorre a métodos biológicos, desde a colocação de ninhos de morcegos que asseguram o controlo de insectos nefastos à vinha e controlo dos mosquitos, por métodos naturais de pulverização de feromonas e criação de charcos artificiais com colónias de rãs e cágados que evitam a proliferação destes. A Adega dos Vinagres é uma típica adega onde o vinagre amadurece e estagia e a quem as uvas sem grainha conferem um sabor adocicado (balsâmico), com todos benefícios antioxidantes, sendo a prova dos vinagres uma verdadeira surpresa, com uma degustação surpreendente.